Ainda não se sabe ao certo quando os alunos da educação básica poderão voltar com segurança às salas de aula. No Brasil, os governos estaduais, com exceção do Amazonas, ainda estão avaliando o momento mais adequado para autorizar o retorno presencial.
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Além da preocupação com a data, há muitas dúvidas em relação a como esse retorno será realizado e quais problemas terão de ser enfrentados depois de um período tão prolongado de isolamento social. Segundo a psicóloga Maísa Panutti, doutora em Educação e supervisora do Serviço de Psicologia Escolar do Colégio Positivo, ainda é difícil mensurar o impacto da quarentena no estado emocional dos alunos, mas, até o momento, as situações de ansiedade são as que mais têm afetado crianças e adolescentes.
“Existe a ansiedade diante do inesperado, de não saber o que vai acontecer, além do medo de adoecer ou de alguma pessoa da família ficar doente. Essa ansiedade também pode ser decorrente de dificuldades financeiras, do desemprego ou até luto por algum membro que tenha falecido por conta do vírus”, explica. A falta de motivação, principalmente em relação às atividades escolares, também tem sido percebida por educadores e pais.
Nova realidade
Mesmo diante de tantas incertezas, é preciso que a família e a escola já comecem a preparar as crianças e os adolescentes para uma nova realidade. Segundo a especialista, é importante que todos entendam que esse retorno será bastante diferente, pois haverá uma preocupação com a etiqueta de higiene e novas regras de relacionamento e aproximação física. “Além da família, as próprias escolas que estão oferecendo atividades remotas devem enviar para os alunos informes por meio de vídeo, cartilha ou qualquer tipo de material que seja atraente, explicando como será a volta”, orienta.
Quando as atividades presenciais retornarem, será importante que os educadores não se preocupem somente com o conteúdo pedagógico, que terá de ser reforçado e apresentado em pouco tempo, mas também com a saúde mental dos alunos.
O ensino remoto pode atrapalhar a educação infantil?
“Os educadores precisam abrir espaço para a comunicação nas turmas, criar momentos de escuta e de fala como rodas de conversa. Será importante falar sobre esse período de afastamento, sobre o que pensaram, o que sentiram e como se organizaram para fazer as atividades”, diz Panutti.
Principais desafios
Os alunos terão de enfrentar diversos desafios para se adaptarem ao novo normal das escolas. Embora não se saiba ao certo quais marcas serão deixadas pelo período de quarentena, já se entende que crianças e adolescentes estarão vivenciando medo, luto ou mesmo insegurança financeira por conta de possíveis quedas de orçamento na família. Além disso, conforme prevê a especialista, ao chegarem à escola, terão, por exemplo, de encontrar novas formas de se aproximar que não seja se abraçando, sem poder compartilhar celular, materiais e lanche.
“Isso será muito difícil, pois no ambiente escolar trabalhamos a importância da colaboração e da cooperação; atitudes valorizadas e nobres que agora não serão mais permitidas. Essas questões são novas para todos nós e terão de ser trabalhadas com atenção especial”, explica a psicóloga.
Saiba quais são as diferenças entre EAD e ensino remoto
Outro desafio a ser enfrentado pelos educadores é o fato de que nem todos os alunos tiveram as mesmas oportunidades no ensino remoto, por conta de condições econômicas, falta de acesso à tecnologia adequada ou ainda ausência de suporte familiar. “É muito provável que os educadores tenham de lidar com uma heterogeneidade maior do que normalmente já existe na escola. Alguns alunos podem ter avançado em relação ao conteúdo e outros, estagnado. A aprendizagem é um direito de todos, por isso será preciso discutir diferentes maneiras de favorecê-la”, finaliza.